Delivery: o que os dados revelam sobre o presente e o futuro deste hábito de consumo
Por Simone Galante
Quando olhamos para o delivery hoje, é inevitável reconhecer que ele se consolidou como parte do cotidiano dos brasileiros. Mas, como tudo no foodservice, a permanência não significa estagnação e sim, significa transformação.
Nossa Pesquisa “Alimentação Hoje: a visão do consumidor”, realizada em março de 2025 com 1008 entrevistados das classes A, B e C, mostra um dado que pode parecer contraditório à primeira vista: 81% afirmam fazer pedidos de delivery ou retirada, mas essa porcentagem caiu cerca de 11 pontos percentuais em relação a abril de 2024.
Essa redução é puxada principalmente pelas classes mais populares, especialmente a classe C, que representa 49% dos nossos respondentes. Ao aprofundarmos nos dados, vimos que 58% da classe C reduziram a frequência com que pedem delivery ou comem fora de casa, frente a 36% da classe B e apenas 6% da classe A. Ou seja, o delivery continua relevante, mas está deixando de ser uma escolha frequente para quem mais sente o impacto do orçamento apertado.
Isso fica ainda mais evidente quando perguntamos o que os consumidores fazem para reduzir os gastos com refeições fora de casa:
- 38% aproveitam cupons, descontos e promoções,
- 36% diminuem a frequência de consumo fora,
- 35% levam marmita ou cozinham mais em casa.
Aqui, novamente, a diferença entre as classes salta aos olhos. Enquanto a classe A mantém seus hábitos praticamente estáveis (96% seguem pedindo delivery ou retirada), as classes B e C se adaptam como podem. E essa adaptação tem tudo a ver com priorização.
Mesmo com esses desafios, 35% dos brasileiros dizem que aumentaram a frequência de compras por delivery nos últimos dois anos, ao passo que outros 37% diminuíram. Uma polarização clara entre quem pode manter esse estilo de vida e quem precisa readequar suas escolhas.
Além disso, o como e quando o delivery é usado também está mudando (aqui revelo alguns dados adicionais proprietários nossos):
- A ocasião mais comum continua sendo refeições em casa com família e amigos, mas essa prática caiu quase 17% em um ano.
- Houve quedas ainda mais expressivas em situações como momentos de lanche (-33%) e trabalho sozinho (-58%).
- Telefonemas para fazer pedidos caíram quase 10 pontos percentuais, reforçando a importância de digitalização nos canais de venda.
Esse retrato deixa claro: o delivery veio para ficar, mas seu protagonismo depende de algo essencial: disponibilidade de recursos do consumidor. A experiência precisa ser repensada não apenas para fidelizar quem já consome, mas para reconquistar quem teve que pausar. Com soluções mais acessíveis, menus pensados para ocasiões mais simples, programas de fidelidade que de fato façam diferença, e com canais de atendimento cada vez mais integrados, podemos reequilibrar essa equação.
No fim do dia, o consumidor brasileiro está dizendo: “eu quero continuar pedindo, mas preciso que isso caiba na minha vida, ou seja, no meu bolso.”