GALUNION – Consultoria em Foodservice

Como encontrar o caminho certo para o futuro?

Por Simone Galante, fundadora e CEO da GALUNION

 

Diferenciar o que é modismo do que é tendência sólida depende, acima de tudo, de muita conversa e interação com todo o mercado

Houve um tempo em que as mudanças aconteciam lentamente. Parece inimaginável que, um dia, um navio demorava meses para atravessar o oceano ou que uma mensagem só chegava ao seu destinatário dias depois. E nem é preciso voltar muito no tempo: nos rincões do Brasil, por sinal, ainda hoje existem imensas dificuldades para que a informação chegue.

Mas esses são, cada vez mais, exceções. A regra, hoje, é saber rapidamente o que está acontecendo do outro lado do mundo – o que gera ansiedade e o fear of missing out (FOMO), mas também permite estar sempre antenado ao que de mais moderno acontece.

Para fugir do FOMO e abraçar a mudança, adotamos, como princípio de vida, a ideia da conexão total e introspecção também. Se nunca se sabe de onde virá a próxima revolução, é preciso ter olhos abertos, ouvidos atentos e uma mente sempre inquieta e curiosa. Ao mesmo tempo, exercer o senso crítico e refletir para evitar os modismos e as “tendências da semana”. Um equilíbrio delicado, mas uma missão que nos provoca o tempo todo.

Aqui na GALUNION, esse equilíbrio entre olhar tudo e filtrar aquilo que faz sentido para cada cliente passa por um ecossistema bastante amplo. Durante todo o ano, realizamos missões nacionais e internacionais para eventos do foodservice e de fora dele. Também promovemos eventos que trazem mentes inquietas para discutir como criar um futuro melhor a partir do presente que temos hoje.

Nossos estudos, desenvolvidos com diferentes olhares (consumidor, operadores, fornecedores), dão condições para entender onde estão boa parte dos gaps e como resolvê-los. Por fim, o trabalho diário de boa parte da equipe atuando em consultoria ou participando de conselhos/mentorias nos irriga com o desafio constante de mergulhar em realidades diversas e fazer a conexão delas com as principais tendências e com as melhores práticas.

E tudo isso sabendo que, amanhã, muita coisa irá mudar. Afinal de contas, somos metamorfoses ambulantes – e quem cristaliza uma visão de mundo fica congelado no tempo.

 

Cabeça no céu, pés no chão

Um desafio que tenho percebido ser particularmente complexo é como identificar “tendências viáveis”: aquelas tendências que fazem sentido para um negócio, estão amadurecendo e precisam estar contempladas na estratégia das empresas.

É o “sonhar com o pé no chão”, avaliando o que de mais incrível pode acontecer, mas lembrando sempre que orçamentos são limitados, a cultura corporativa pode impedir a modernização dos negócios e as ideias precisam ser transformadas em planos de ação simples.

Para conseguir realizar tudo isso, vale ter em mente alguns pontos essenciais:

 

1)    Respeite as particularidades

É muito comum que o movimento de traçar tendências vire uma generalização que não ajuda ninguém. Um bom exemplo são as divisões geracionais: baby boomers, Geração X, Millennials, Geração Z, Geração Alpha. Usa-se tanto esse conceito que nem sempre percebemos que essa divisão segue a lógica do mercado americano – que nem sempre pode ser aplicada sem adaptações à nossa realidade.

Mais ainda: quem disse que a realidade do consumidor classes A ou C de São Paulo é a mesma das classes A ou C no Centro-Oeste? Ou vice-versa? O fato é que vivemos realidades múltiplas, todas se misturando, conectando, convergindo e se dissociando, em uma combinação difícil de resumir em realidades absolutas.

Por isso, o primeiro ponto é ter muita humildade e respeitar as particularidades de cada cliente, e o que ele necessita que resolvamos para eles (no melhor conceito de “Jobs to be done”). Quem vive na periferia de São Paulo tem cultura, hábitos e preferências que não necessariamente fazem sentido na periferia de outras grandes cidades, mas também podem ter necessidades comuns e ocasiões de consumo semelhantes. Analise cada tendência e cada vetor de mudança de acordo com a sua realidade – o seu consumidor e suas ocasiões de consumo devem ser sempre o seu filtro.

 

2)    Seja curioso sempre

Mentes inquietas estão de olho em tendências o tempo todo, mas sempre conectando com o que faz sentido localmente. Nesse processo, muitas verdades absolutas caem por terra – e é bom que seja assim, pois se o consumidor, concorrência etc. estão sempre em mutação, precisamos aprender sempre para nos conectarmos.

E as realidades são muito diferentes em cada cultura. Por mais globalizadas que as pessoas sejam (e são, pois, acessam conteúdo do mundo inteiro pelas redes sociais), cada pessoa traduz aquilo que vivencia de acordo com seu repertório.

Assim, quem melhor identifica a aplicação das tendências é quem consegue capturar informações de múltiplas frentes e fazer a conexão de tudo isso com aquilo que existe de único em cada local, segmento ou cultura.

O resultado desse mix é inevitável: quanto mais estudamos, menos certezas temos. Criamos uma enorme “caixa de ferramentas” para lidar com os consumidores, seus hábitos e desejos, e a capacidade de usar a ferramenta certa é que faz a diferença.

 

3)    Polinize o presente, prepare o futuro

Nossa inquietação e vontade de codificar o presente nos leva a fazer pesquisas com consumidores, operadores e fornecedores. Também nos leva a entender o papel crescente dos avanços tecnológicos na mudança de comportamento – de curto, médio e longo prazo. Ao mesmo tempo, precisamos manter um olhar mais antropológico, entendendo que o ser humano muda muito mais lentamente (e de forma desigual) do que a tecnologia.

Por meio da nossa Mandala Food&Tech Trends, de vários outros estudos, dos eventos que fazemos ao longo do ano e da atividade diária de conversar com pessoas, funcionamos como “abelhas do foodservice”, polinizando o setor. Um insight daqui uma conclusão de lá, uma conexão entre pessoas e uma curiosidade identificada em um lugar que aparece ressignificada em outro lugar – o mundo é uma mistura de influências e ninguém vive isolado.

Se ninguém é uma ilha, se prepara melhor para o futuro quem está conectado ao maior número de caminhos diferentes. Especialmente nesses tempos em que só se fala em Inteligência Artificial, o grande diferencial é ter repertório para fazer perguntas e entender realidades muito diversas. Pois é a partir da polinização do presente que se constrói o futuro de qualquer negócio.

 

4)    Todo mundo precisa ser tech

Tecnologia é um aspecto cada vez mais importante para as empresas – e em inúmeras frentes. Seja para aumento de produtividade e eficiência, para melhorar os controles internos ou para melhorar a experiência dos consumidores, todo mundo precisa, de alguma forma, “ser tech”.

Em alguns casos, empresas criam laboratórios de inovação e verdadeiras fábricas de desenvolvimento de software. Em outros, a tecnologia está embarcada nos equipamentos que compõem as lojas e as cozinhas, ou nos sistemas que modificam os processos de trabalho e de atendimento ao cliente. Em muitas ocasiões, é a partir dessas “traduções” da tecnologia para o dia a dia que fica claro o quanto algo de fato faz sentido para os operadores, no calor do cotidiano dos negócios.

O “olhar tech” sobre os negócios, assim, tem um caráter cada vez mais importante. É por isso que iniciativas como o Radar Tech, que apresentaremos anualmente, ganham relevância: é a oportunidade de entender, rapidamente, o que tem potencial para funcionar no mercado brasileiro – e o que é utopia.

Fico muito feliz em comemorar neste artigo os nossos 15 anos de atuação. É pelos motivos acima que somos focados em foodservice e fazemos questão de atuar com empresas que vão de refeições coletivas, lojas de conveniência, padarias a redes multiconceito, próprias ou franquias. Circulamos em todo o mercado nacional e no exterior, trabalhando com empresas de todos os portes e, em eventos e por meio de nossa plataforma digital, contribuímos com insights para as mentes inquietas que transformam o mercado brasileiro.

 

Convido você a fazer parte dessa comunidade e a gerar mais ideias e inovação para o desenvolvimento de um ecossistema de foodservice cada vez mais forte no Brasil. Vamos juntos!