Pessoas: a grande disrupção do Foodservice acontece aqui
Por Simone Galante, fundadora e CEO da GALUNION
Mentes inquietas trabalham constantemente buscando novas conexões. Ideias se misturam, se somam e se recombinam para criar visões diferentes – e nesse processo todo, transformam o entendimento sobre o mercado, as tendências e como encantar os consumidores.
O mais curioso é que a releitura e ressignificação de ideias, conceitos e “verdades” é constante. Um processo interminável que nunca cristaliza verdades absolutas. Mentes inquietas são metamorfoses ambulantes, dispostas a aprender sempre e a reconsiderar perspectivas e visões sempre que um novo prisma se apresenta.
Vivemos, mais uma vez, todo esse processo nos últimos meses. O GALUNION Rocket: Missão NRA Show 2024 levou quase 200 participantes para o maior evento do setor de Foodservice no mundo, em Chicago, e desde então vem gerando inúmeros desdobramentos.
- No calor do evento, reunimos nosso time de curadores de conteúdo e saímos de Chicago com 5 grandes take aways gerais do evento:
- Fácil e conveniente: as operações precisam ser rápidas e otimizadas para atender bem os clientes com praticidade – sem perder tempo;
- Nutrir para viver: a alimentação saudável ganha força, sem perder de vista os momentos necessários de indulgência e de aproveitar a vida;
- Autêntico e transparente: as marcas precisam ser autênticas em suas propostas de valor e comunicação, sem esconder os problemas;
- Sempre relevante – uma jornada de inovação: as inovações nem sempre são disruptivas. É importante evoluir, sempre a partir daquilo que é importante para os consumidores;
- Tech + touch: tecnologia precisa ser agregada aos negócios de forma relevante, para gerar resultados, e não para demonstrar modernidade. Além disso, deve sempre contribuir para melhorar o relacionamento com os clientes.
Se você quer se aprofundar nesses take aways, vale ler o texto do blog da GALUNION que apresentou em mais detalhes as 5 grandes conclusões.
Mas essa visão do que vimos em Chicago foi só o começo da jornada. Voltar para o Brasil com esses insights na mala leva automaticamente ao passo seguinte: como tudo isso se relaciona com a nossa realidade? Mais ainda: a cada uma das nossas realidades, uma vez que o Brasil é um país extremamente complexo.
Isso é algo que ninguém faz sozinho. A combinação de diferentes visões é que traz mais desdobramentos e impulsiona uma inovação contínua, que precisa estar sempre orientada ao consumidor. Afinal de contas, o cliente é quem valida ou lança por terra qualquer conceito, inovação ou tecnologia.
Novos olhares sobre o Foodservice
Ao trazer os take aways da NRA Show para o Brasil, as diferenças ficam ainda mais claras. Os EUA são um país em que a tecnologia é relativamente acessível e um grande déficit de mão de obra. O Brasil tem uma realidade diferente, em que a mão de obra é cara (além de faltar pessoas) e a tecnologia tem um impacto muito maior sobre os custos. Por isso, falar de gente é extremamente importante – tanto lá quanto aqui.
Atrair e reter pessoas é essencial para o sucesso de qualquer negócio varejista – ainda mais no Foodservice, em que o contato pessoal faz uma enorme diferença na experiência do cliente. Um estudo realizado pela GALUNION em parceria com a ANR e a ABIA no final do ano passado mostrou que 57% dos operadores têm dificuldade em preencher as vagas abertas. Como resolver?
Em primeiro lugar, não existe receita mágica. Sabemos quais são os ingredientes que fazem o sucesso do Foodservice, mas a combinação ideal de pessoas, processos e tecnologia muda para cada negócio. Por isso, é preciso focar em 7 aspectos para que a gestão de pessoas faça a diferença:
1. Revisão de processos
Curioso, mas cuidar de pessoas não começa nas pessoas. É preciso melhorar os processos internos para facilitar a operação do negócio, diminuindo a complexidade. Dessa forma, será mais fácil encontrar pessoas e o onboarding dos novos colaboradores será mais rápido.
O uso de tecnologia tem um grande impacto, pois inovações em fornos, refrigeradores e outros equipamentos – combinados com a forma de trabalhar – simplificam a operação do dia a dia do Foodservice. E quanto mais simples, mais amigável o negócio passa a ser para os colaboradores.
2. Construção de um ambiente atrativo
Um grande desafio é fazer com que as pessoas vejam o Foodservice como uma carreira com oportunidades de crescimento. Um caminho é criar uma “esteira de desenvolvimento”, em que os profissionais possam assumir novos desafios e, eventualmente, até mesmo se tornarem franqueados ou sócios da marca.
Crescer a partir dos talentos que já estão na empresa é sempre a melhor receita. Por exemplo, em redes de franchising os gerentes das lojas conhecem a operação, a cultura e os valores da marca e, por isso, são os candidatos ideais a novos franqueados. Que tal ajudá-los nesse processo, isentando de taxa de franquia ou criando outros benefícios?
Mas não basta apenas criar uma esteira: é preciso mostrar dentro da empresa que ela existe. Conte as histórias de sucesso, mostrando para todo o time que, sim, é possível crescer muito dentro da empresa. Apresente os bons exemplos e deixe seus colaboradores mostrarem que sua marca é ótima.
3. Desenvolvimento de uma cultura organizacional
É impossível ter um negócio duradouro sem uma cultura organizacional forte. As pessoas querem trabalhar com marcas com as quais se importem, que valorizem e respeitem. Isso começa nos valores e no propósito da marca, que precisam ser sólidos e muito bem comunicados e praticados em todos os momentos e oportunidades.
4. Autenticidade como um valor essencial
Transparência e autenticidade são aspectos fundamentais da comunicação das marcas, da gestão de pessoas e do relacionamento com o cliente. É preciso ser real, sem fingimentos – começando no dia a dia do contato da gerência com o time e avançando para as redes sociais e para a experiência do consumidor.
Uma boa dica é usar as redes sociais não somente para a divulgação de produtos, mas para comunicar a identidade e a personalidade da marca. Não mostre só a comida, mostre a cultura do negócio nas postagens. Lembre-se: os clientes se relacionam com quem se identificam. Mostrar quem você é rende pontos.
5. Dinheiro sempre importa
Propósito e valores são essenciais, mas dinheiro sempre importa. Não se iluda: seu time tem contas a pagar e, se não for bem remunerado, irá procurar outro lugar para trabalhar. Por isso, remunere bem seu time, de preferência pagando acima da média do mercado.
É muito caro substituir um colaborador: os custos de onboarding, a perda de produtividade, o impacto negativo no atendimento e a pressão sobre o time são aspectos nem sempre contabilizados, mas muito importantes na gestão do Foodservice. Nesse sentido, vale mais a pena oferecer um salário melhor e manter o time do que ter um turnover elevado.
Há ainda outro ponto: manter o colaborador por mais tempo na empresa solidifica a cultura, cria um ambiente positivo e acelera o desenvolvimento e a evolução profissional das pessoas. Tanto no mercado americano quanto no brasileiro, esse é um enorme ponto de atenção. Nesse caso, muita gente “economiza no cafezinho” e perde grandes oportunidades de ter uma equipe que gera mais resultados.
6. Capacite seu time sempre
Treinamento nunca deve ser algo pontual – precisa ser uma disciplina frequente no Foodservice. Avalie quais são os treinamentos mais urgentes que o time precisa receber, comece por eles e vá avançando. Peça feedback do time para saber onde atuar e corrija qualquer problema na hora. Sempre que puder, ensine o que motiva os padrões de treinamento – assim quando algo novo surge, o seu time saberá melhor como reagir.
Ouça seu time o tempo todo, atue naquilo que gera retorno e treine seu time até que seja “impossível errar” naquela tarefa.
7. Tenha metas e ofereça diversão
Os Jogos Olímpicos são o maior exemplo de como o esporte une pessoas e gera engajamento. Atire uma pedra quem não parou o que estava fazendo para torcer nas finais do skate ou da ginástica artística. Podemos e devemos usar os esportes como um exemplo de sucesso.
Defina regras, realize atividades em grupo, promova competições positivas e estimule a melhoria contínua de seu time. Esse é um caminho que cria vínculos em sua equipe, promove o trabalho conjunto, reforça o engajamento e diminui a rotatividade do time. Uma receita vencedora.
As pessoas são o principal ponto de diferenciação do Foodservice – mais que os produtos, a ambientação do restaurante ou a tecnologia empregada. Por mais incrível que seja seu cardápio, um time desengajado afasta os clientes. E esse é um ensinamento que precisamos levar todos os dias para nossos negócios.
Cuide do seu time, pois ele é sempre o seu maior diferencial: é na ação que conquistamos experiências memoráveis!